DISLEXIA: SINAIS DE ALERTA EM CRIANÇAS, JOVENS E ADULTOS
Ao reconhecermos os Sinais de Alerta que podem indicar crianças em risco de dislexia podemos proceder a uma avaliação e intervenção precoce adequada, prevenindo o efeito potencialmente cumulativo e prejudicial das dificuldades ao nível da leitura. Atualmente, graças à investigação realizada no âmbito das perturbações da leitura e da escrita, é possível sistematizar e concretizar esses sinais específicos da dislexia e traçar retratos facilmente reconhecíveis em diferentes períodos do desenvolvimento.
Pais, educadores e professores, podem desempenhar um papel ativo na identificação destes sinais. E porque a identificação de um problema é a
chave que permite aceder à sua resolução ficam aqui esquematizados os sinais de alerta que definem 4 “retratos da dislexia” em diferentes níveis de desenvolvimento: no jardim de infância, no 1º ano, a partir do 2º ano de escolaridade e, finalmente, em jovens e adultos.
SINAIS DE ALERTA – JARDIM DE INFÂNCIA• História de atraso na aquisição da linguagem, tal como começar a dizer as primeiras palavras após os 15 meses (quando as primeiras palavras surgem habitualmente por volta do ano de idade) e a dizer frases após os dois anos de idade (quando habitualmente se formam entre os 18 meses e os dois anos de idade). Este atraso de linguagem pode ser referido pelos pais como uma característica familiar. Note-se que a dislexia é uma perturbação parcialmente genética pelo que crianças com histórico familiar de dificuldades ao nível da leitura e escrita deverão ser atentamente observadas para detetar a presença de eventuais sinais indicadores da referida problemática.
• Linguagem de “bebé” persistente;
• Frases curtas, palavras mal pronunciadas com omissões e inversões de sílabas ou fonemas (fósforos/fosfos, pipocas/popicas);
• Dificuldade em aperceber-se de que as frases são formadas por palavras e que as palavras se podem segmentar em sílabas;
• Falta de interesse por livros impressos;
• Não saber as letras do seu nome próprio;
• Dificuldade em aprender e recordar os nomes e os sons das letras;
• Dificuldade em memorizar canções e lengalengas;
• Dificuldade em aprender nomes de cores, pessoas, objetos e lugares;
• Dificuldade na aquisição dos conceitos temporais e espaciais básicos: depois/antes, atrás/à frente.
SINAIS DE ALERTA – PRIMEIRO ANO DE ESCOLARIDADE
• Dificuldade em compreender que as palavras se podem segmentar em sílabas e fonemas;
• Dificuldade em associar as letras aos seus sons (dificuldade em associar a letra “pê” ao som /p/);
• Erros de leitura por desconhecimento das regras de correspondência grafo-fonémica: vaca/faca, calo/galo;
• Dificuldade em ler monossílabos e em soletrar palavras simples: ao, pai, bola…;
• Maior dificuldade na leitura de palavras isoladas e pseudopalavras;
• Recusa ou insistência em adiar as tarefas de leitura e escrita;
• Necessidade de acompanhamento individual do professor para prosseguir e concluir os trabalhos;
• Relutância, lentidão e necessidade de apoio dos pais na realização dos trabalhos de casa;
• Queixas dos pais e dos professores em relação às dificuldades de leitura e escrita;
• História familiar de dificuldades de leitura e ortografia noutros membros da família.
SINAIS DE ALERTA – A PARTIR DO SEGUNDO ANO DE ESCOLARIDADE
a) Problemas de Leitura »
• Histórico familiar de problemas de leitura;
• Progresso muito lento na aquisição da leitura e ortografia;
• Dificuldade na leitura de palavras multissilábicas. Omite partes da palavra (fonemas e sílabas) ficando um “buraco” no meio da palavra (biblioteca/bioteca);
• Dificuldade, necessitando de recorrer à soletração, quando tem que ler palavras desconhecidas (novas, não-familiares), irregulares e com fonemas e sílabas semelhantes;
• Dificuldade em ler pequenas palavras funcionais (ai, ia, de, em…);
• Confusões de grafemas com correspondência fonética próxima (j/ch-f/v) ou com grafia semelhante (a/o-m/n);
• Frequentes inversões (ai/ia), omissões (batata/bata), adições e substituições de letras, sílabas ou palavras;
• Erros ortográficos frequentes nas palavras com correspondências grafo-fonémicas irregulares e caligrafia imperfeita;
• Substituição de palavras de pronúncia difícil por outras com o mesmo significado;
• Melhor capacidade para a leitura de palavras em contexto do que isoladas;
• Dificuldade em terminar os testes no tempo previsto;
• Surgem reclamações sobre o quanto é difícil ler. A criança poderá inclusive correr e esconder-se para fugir ao ato de ler;
• Desagrado e tensão durante a leitura. Leitura hesitante, lenta, cansativa, com incorreções e erros de antecipação;
• Tendência para adivinhar as palavras apoiando-se no desenho e no contexto;
• Trabalhos de casa parecem não ter fim. Recorrem frequentemente aos pais que são recrutados para ler os enunciados;
• Correção leitora melhora com o tempo, mantém a falta de fluência e a leitura trabalhosa;
• Presença de muitos erros ortográficos;
• Grafia disforme e ilegível;
• Défices acentuados na construção frásica.
• Baixa auto-estima, com sofrimento, que nem sempre é evidente para os outros;
b) Problemas de Linguagem »
• Discurso pouco fluente com pausas, hesitações frequentes, muitos “um’s” durante a fala;
• Uso de linguagem imprecisa em substituição do nome exato ou correto do objeto: a coisa, aquilo…;
• Dificuldade em encontrar a palavra correta, confundindo palavras com sonoridade semelhante, como humidade em vez de humanidade;
• Dificuldade em recordar informações verbais, problemas de memória a curto termo: datas, nomes, números de telefone…;
• Dificuldade em dar respostas orais rápidas e em terminar testes no tempo previsto;
SINAIS DE ALERTA EM JOVENS E ADULTOS
a) Problema na Leitura »
• História pessoal de dificuldades na leitura e escrita;
• Dificuldades de leitura persistentes — A correcção leitora melhora, a leitura continua a ser lenta e esforçada;
• Dificuldades em ler e pronunciar palavras pouco comuns, estranhas ou únicas (nomes de pessoas, nomes técnicos);
• Não reconhecer palavras que leu ou ouviu quando as lê ou ouve no dia seguinte;
• Preferência por livros com poucas palavras por página e com muitos espaços em branco;
• Longas horas na realização dos trabalhos escolares;
• Penalização nos testes de escolha múltipla;
• Ortografia desastrosa – preferência pela escrita de palavras simples;
• Falta de apetência para a leitura recreativa;
• Sacrifício frequente da vida social para estudar as matérias curriculares;
• Vergonha e desconforto quando tem que ler algo em voz alta – Evitamento
b) Problemas de Linguagem »
• Dificuldades na linguagem oral;
• Pronúncia incorreta de nomes de pessoas e lugares, saltar por cima de partes de palavras;
• Dificuldade em recordar datas, números de telefone, nomes…;
• Confusão de palavras com pronúncia semelhante;
• Dificuldade em recordar as palavras (“ponta da língua”);
• Vocabulário expressivo inferior ao compreensivo.
c) Evidência de Áreas Fortes nos Processos Cognitivos Superiores »
• Melhoria muito significativa quando lhe é facultado tempo suplementar nos exames;
• Boa capacidade de aprendizagem, talento especial para níveis elevados de conceptualização;
• Ideias criativas com muita originalidade;
• Sucesso profissional em áreas altamente especializadas (medicina, direito, ciências políticas, finanças, arquitetura…);
• Boas capacidades de empatia, resiliência e adaptação.
Estes sinais que aparecem ao longo da vida são, como refere Sally Shaywitz, “um retrato da dislexia”. Observe-os de perto e com cuidado, pense neles e determine se algum deles está presente. Se apenas alguns destes sinais forem detetados não há motivos para alarme.
Qualquer um pode confundir palavras cuja sonoridade é semelhante de vez em quando, ou pronunciar mal uma palavra. Para se preocupar os sinais deverão manifestar-se em determinado número formando um padrão consistente e persistente, isto é, terão de ocorrer ao longo de vários meses. Isso sim representa a probabilidade de que haja dislexia.
Nesse caso procure a ajuda de um especialista para se proceder a uma avaliação e diagnóstico adequado.